Mototrip da Andaluzia a Lisboa

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O feriado de 12 de outubro — dia de Nossa Sra. Aparecida no Brasil, e Fiesta Nacional na Espanha proporcionou 4 dias de folga e, com isso, resolvemos fazer uma mototrip da Andaluzia a Lisboa. Desde que meu marido comprou uma moto mais potente (de 500 cilindradas), estávamos com vontade de encarar uma viagem mais longa e essa foi a oportunidade perfeita.

Moto pronta: pé na estrada

E "longa" realmente é o melhor adjetivo para essa viagem que parecia não acabar mais. Fizemos caminhos distintos de ida e volta — na ida, andamos pelo interior do Alentejo, em estradas menores e lindinhas, cercadas por videiras e aldeias rurais. A vantagem foi não pagar um pedágio de 16 euros na chegada a Lisboa.

Na volta, decidimos atravessar a imensa Ponte Luís de Camões, que é a mais comprida da Europa, e encarar o pedágio (que é pago quase na saída do país, próximo à fronteira com a Espanha) e, com isso, pudemos desfrutar de uma estrada nacional (a A6) onde a viagem fluiu bem mais rápido.

Moto na estrada

Partimos de Jaén, onde vivemos, sentido Córdoba. De lá, pegamos a direção de Badajoz, uma das cidades espanholas que faz fronteira com Portugal. É necessário ter atenção nesses dois locais para não tomar outro rumo: como Córdoba é uma cidade grande, ao aproximar-se da capital abrem-se várias estradas e facilmente você pode se perder e ir para dentro da cidade. Já em Badajoz, é necessário cortar por dentro da cidade e atravessar uma ponte para ir rumo à fronteira.

Ao, literalmente, sair de um país e entrar no outro (os distraídos nem reparam na placa que marca a divisa), a primeira cidade portuguesa com o qual o viajante se depara é Elvas. O pedágio também estará a sua esperar logo que entrar em Portugal (o trajeto feito na Espanha não tem cobrança). Nas estradas lusas, é comum você pegar o ticket em uma cabine e fazer o pagamento alguns quilômetros depois, tudo de forma automatizada (as máquinas aceitam todas as moedas e as cédulas de 5, 10 e 20 euros).

O percurso de Jaén à Badajoz dura cerca de 4 horas, já de Badajoz a Lisboa, são mais 2h30, em média. Saímos por volta das 8h30 de Jaén e chegamos a Lisboa por volta das 16h30, com paradas de hora em hora para descanso ou abastecimento da moto, além de uma parada mais longa em Évora para o almoço. Vale lembrar que se atrasa em 1h o relógio quando se entra em Portugal.

Para quem viaja de carro ou moto, vale a pena usar o Guia Michelin para verificar as possíveis paradas pelos caminhos, os pedágios e seus valores, postos de gasolina e até atrações turísticas que há pela rota, que podem ser interessantes de conhecer. No caminho que percorremos, chamam a atenção as bodegas e armazéns que vendem vinhos e embutidos na região de Extremadura, na Espanha. Já em Portugal, pode ser interessante uma parada nas várias aldeias históricas pelas quais se passa, como Elvas e Évora.

Finalmente, Lisboa

A Praça do Comércio, ícone da cidade.

Após as longas horas de viagem, paramos em Loures, cidade que fica a 17 km da capital, onde nos hospedamos no apê de um casal de amigos. Só a noite fomos à Lisboa para comer. O local escolhido foi o Frankie's Hot Dogs que fica no Campo Grande, próximo à zona universitária da cidade. Após o lanche, decidimos ir a um bar com terraça, já que em Lisboa não há coisa melhor do que aproveitar as vistas a partir das terraças, miradouros e elevadores espalhados pela cidade.

O eleito foi o bar Teto Chiado, que fica atrás do Convento do Carmo. Os preços por lá são um pouco elevados, mas o ambiente é agradabilíssimo, com uma bela vista do Castelo de São Jorge e do Elevador de Santa Justa.


 No Topo Chiado estava rolando uma sessão de cinema. Ao fundo, o elevador da Santa Justa.

A próxima parada foi o Bairro Alto, local ideal para quem gosta de badalação noturna. Há três ou quatro ruas que, à noite, contam com diversos bares servindo shots e doses maiores de bebida a preços atrativos (pagamos 1 euro por um copo de 300 ml de cerveja + 1 shot de tequila ou vodca). O comum na noitada desse bairro é as pessoas ficarem pelas ruas mesmo para beber e conversar, em vez de ficarem dentro dos bares. Foi lá que tomamos a ginjinha, um licor de fruta tradicional da região de Lisboa.

De bairro em bairro pelo centro

No dia seguinte, dedicamos mais horas à cidade, começamos pela Rua Augusta, onde almoçamos. Lá é cheio de "restaurantes de comida típica", mas é cada vez mais difícil encontrar algum que seja realmente comandado, ou cuja comida seja de fato preparada, por um português. Isso também aconteceu quando fomos a Barcelona (onde os chineses dominam desde os restaurantes "tradicionais espanhóis" até as lojas de souvenirs). 

Vista panorâmica da Rua Augusta a partir do arco

De qualquer maneira, é possível provar pratos comuns do país. E quem quiser, pode aproveitar e passar na Casa Portuguesa dos Pastéis de Bacalhau para comer esse pastel com queijo da Serra da Estrela (pelo qual você deve estar disposto a pagar caros 4 euros/unidade). Quem quiser experimentar o pastel sem o queijo, pode encontrá-lo como opção de entrada na maioria do restaurantes da zona.

A próxima parada foi a Praça do Comércio, de onde se tem uma visão panorâmica do Rio Tejo. Entre a Rua Augusta e a Praça há uma construção que se chama "arco da Rua Augusta", e é possível subir nele para uma visão panorâmica de Lisboa. Vale a pena, pois este é um dos miradores da cidade com preço mais acessível (2,50 euros).

 O arco da Rua Augusta.

Visão da Praça do Comércio e do Rio Tejo.

Voltando pela Rua Augusta, chega-se à zona da Baixa-Chiado, que concentra várias lojas, como garrafeiras (onde se vende vinhos e outras bebidas), livrarias (inclusive a mais antiga do mundo em funcionamento), lojas de departamento como Zara, Pull&Bear, Flying Tiger, além do famoso Café A Brazileira (com z mesmo), aquele com a estátua de Fernando Pessoa à porta.

Indo rumo ao bairro do Rossio, se chega à Avenida Liberdade, na zona conhecida como Marquês de Pombal, onde há um metrô de mesmo nome. Nós exploramos a zona da Avenida Liberdade/Marquês de Pombal no dia seguinte, e por indicação de um primo meu que vive em Lisboa, fomos almoçar em um restaurante self-service/churrascaria brasileiro (não reparei no nome) que fica na região. Eles servem o almoço até mais tarde (até às 16h), algo que está se tornando comum em Lisboa devido à alta afluência de turistas acostumados com horários mais tardios para almoço, como alemães e espanhóis.

Na zona acima do metrô Marquês, há um parque muito bonito, chamado Parque Eduardo VII, e vale a pena subir até a parte mais alta para — outra vez — contemplar uma bela vista da cidade.

No alto do Parque Eduardo VII.

Os bairros mais interessantes de Lisboa se concentram nesse perímetro entre a Praça do Comércio e o Marquês de Pombal, com isso, é fácil ir de um ao outro a pé; ou, caso você se canse devido às subidas e descidas de ladeiras, é só pegar o metrô (quase todas as linhas têm o mesmo nome do bairro onde se encontram).

O bairro do Belém

Um pouco mais afastado da zona central de Lisboa fica o bairro do Belém, onde está a famosa Torre de Belém, além do monumento Padrão dos Descobrimentos, do Mosteiro dos Jerónimos e do local mais tradicional para comprar pastel de nata — que se chama, literalmente, Pastéis de Belém. Tudo bem fica bem próximo um do outro.

A Torre de Belém.

É possível entrar na Torre, mas na minha opinião não vale a pena, melhor usar o dinheiro para entrar no Mosteiro dos Jerónimos (o custo é de 10 euros, ou 12, se combinado com a Torre, ou 16, se combinado com a Torre e o Museu de Arqueologia que fica no Mosteiro). Infelizmente, não tive tempo de ir.

Padrão dos Descobrimentos.

Se for a Belém, vale a pena passar pelo Padrão dos Descobrimentos e contemplar o belíssimo mapa que tem atrás dele, no chão, mostrando os territórios onde os portugueses chegaram na época das Grandes Navegações.

No mapa, a América do Sul, com destaque ao Rio da Prata, Cananeia e Porto Seguro.

Impressões sobre a cidade

Eu imaginava que Lisboa fosse uma cidade pequena, considerando o tamanho diminuto de Portugal. Mas, para minha surpresa, a cidade é grande e pode ser tão caótica no trânsito quanto São Paulo, sem contar as obras que estão sendo feitas para tentar melhorar o fluxo de pessoas por lá. Aliás, o bairro do Belém, que fica numa zona menos central, com bastante galpões, linha de metrô e é cortado por uma avenida movimentada, tem a mesma atmosfera do bairro do Belém paulistano.

Parece que houve um boom turístico nos último 2 anos em Lisboa e, com isso, a cidade ainda está se adaptando ao grande número de visitantes. Um grande inconveniente é que tudo fica facilmente lotado, e muitas vezes é impossível tirar uma foto dos lugares e monumentos sem que saiam várias pessoas na frente (parece até a Fontana di Trevi, em Roma).

Em Lisboa o gasto é mediano: é possível encontrar refeições simples a 7 euros, por exemplo; o metrô custa 1,65 euros; uma hora de estacionamento vale 1,20 euros. Mas há gastos que podem ser considerados caros, como a entrada para alguns monumentos ou o preço dos elétricos e bondes que sobem as ladeiras da cidade (vimos um que cobrava 3,70 euros para uma subida que não dura nem 1 minuto!).

Apesar de não ter me hospedado em Lisboa, recomendo fortemente tentar algum local no centro, nos bairros citados neste texto. Imagino que os preços sejam mais altos, mas vai ser muito mais cômodo. Se tiver que ficar distante da região central, que, pelo menos, seja próximo à alguma estação de metrô, assim se tem acesso fácil às zonas turísticas da cidade.

Como chegar

Quem, como eu, mora na Espanha, pode encarar uma viagem de carro ou moto e entrar pelo norte de Portugal (fronteira com a Galícia). Pelo centro, nas fronteiras com as regiões de Castilla y León ou Extremadura, chega-se ao Alentejo, e este é o caminho que fizemos. Já pelo sul, a fronteira é entre a província espanhola de Huelva e a região portuguesa do Algarve. Quem prefere voar, de várias cidades europeias saem voos direitos para Lisboa, inclusive com cias. low cost, como a Ryanair ou Vueling. Do Brasil, voam diretamente a Lisboa a portuguesa TAP e a brasileira Azul.

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