Granada e Costa Tropical: uma visita à Espanha 'árabe'

Granada foi a última cidade espanhola a ser reconquistada pelos cristãos depois de a Espanha ter ficado por mais de 700 anos sobre o domínio de povos árabes. Talvez seja por isso que a cidade, mais do qualquer outra na Andaluzia, seja o símbolo da ´Espanha árabe´ pela herança deixada por este povo por meio de seus costumes e monumentos. 

A Alhambra, palácio por onde passaram os principais califas da época, é o monumento mais visitado da Espanha, e faz jus a esse título. Em Granada capital ainda há inúmeras teterías (casas de chá), comércios ao estilo muçulmano que vendem tecidos, acessórios de couro, luminárias e muito mais. Os bairros de Sacromonte e Albaicín nos levam de volta aos tempos de ouro do Al-Andalus, enquanto que o centro e as zonas mais suburbanas nos remetem à cultura hispánico-cristã.

Para além de Granada capital, a visita à provincía andaluza de Granada pode ser complementada pelo mar e a montanha: em pouco menos de 1 hora de carro se pode chegar tanto à gigantesca Sierra Nevada - onde reina o ski e os esportes de invierno nos meses mais frios (novembro a março) - ou às tranquilas praias da Costa Tropical, como Motril, Salobreña e Almuñécar.

Como deu para perceber, a província de Granada pode presentear o turista com tudo o que a Andalucía tem de melhor a oferecer, e é por isto que neste post vou te contar o que visitar na região de Granada capital e Costa Tropical que ficam na região sul da Espanha.


Granada capital

A visita a Granada capital costuma ter um objetivo: ir à Alhambra. Por isso, começamos indicando este e alguns outros monumentos históricos da capital granadina.

Alhambra

A Alhambra é um palácio "nazarí" que desponta na zona mais alta da cidade e pode ser avistado de distintos miradouros da região mais central e antiga de capital, principalmente a partir dos bairros de Sacromonte e Albaicín. 

Inicialmente pensada para ser apenas uma zona de proteção militar com uma Alcazaba (fortaleza), com o passar dos anos e com o fortalecimento da presença árabe na Andalucía, o local cresceu. O palácio passou a ser a residência real e logo os arredores dele tornaram-se uma espécie de cidade amuralhada onde se podia encontrar tanto a Alcazaba como a medina (zona onde ficava a residência não apenas da corte, os hoje chamados "Palácios Nazaríes", mas também as casas de nobres e plebeus). Dentro da cidade amuralhada ficava também a zona de jardins ou Generalife. Tudo isto está em pleno estado de conservação e pode ser visito pelo público.

Para fazer uma visita digna à Alhambra, recomendo que separe pelo menos umas 4h. Todo o conjunto monumental é imenso e cheio de detalhes, e é possível realizar a visita tranquilamente na maior parte dele. O único local que tem um acesso mais controlado, onde tentam guiar um pouco as pessoas para que não demorem muito, é o Palácio Nazarí, por tratar-se de zona mais atrativa. Aliás, é preciso indicar uma hora específica em que você deseja entrar para ver o palácio e deve-se respeitar essa hora, caso contrário, correrá o risco de barrarem a sua entrada à essa zona.

No site oficial para a compra de ingressos é possível adquirir entradas para um acesso completo ou para acessar determinadas partes do conjunto monumental da Alhambra. O ideal é o acesso completo, que permite a entrada ao Palácio, que é a parte mais bonita. Se o preço parecer muito salgado (em junho de 2023 custa 19,09 euros), você pode tentar ao menos a visita noturna, que é mais barata (no verão, é uma boa pedida para escapar do calor do dia).

Capilla Real e Catedral

Para contrastar a Granada árabe com a cristã, vale aproveitar a visita à cidade e passar pela "Capilla Real" (capela real) e pela catedral que, como muitas outras catedrais pela Espanha, foi inicialmente construída sob uma antiga mesquita. O desejo de instalar uma catedral em Granada - primeiro na zona da Alhambra - começou com Isabel a Católica em 1492 e foi efetivamente finalizado com seu neto, Carlos I, quando a igreja já havia sido transladada ao centro. O estilo predominante da Catedral de Granada é o renascentista e nela se destacam os dois órgãos instalados no século XVI.

A capela real tem este nome pois é nela que se encontram enterrados os famosos Reis Católicos (Isabel a Católica, já mencionada, também conhecida como Isabela de Castela; e Fernão de Aragão, seu marido), que foram os responsáveis pela reconquista do território espanhol e pela expulsão definitiva dos árabes do reino Al-Andalus. A capela funerária dos reis católicos está anexada à catedral (de fato, a capela foi construída primeiro) e conta com as tumbas dos reis, com uma cripta e também com um museu. 

A entrada à capela custa apenas 5 euros, e à catedral são outros 5 euros (preços em junho de 2023) e podem ser compradas com antecedência pela internet

Lojas e compras

Além de ir a Granada para conhecer mais sobre a história dos povos que formaram a Espanha, vale muito a pena incluir essa cidade no seu roteiro de viagens se estiver interessado em fazer compras no país. Isto porque Granada tem excelentes zonas comerciais - como a Gran Vía de Colón ou o Centro Comercial Nevada - onde podemos encontrar grandes redes de moda, como Zara, H&M, Mango e até a maior Primark da Europa (que fica dentro do Nevada Shopping). Também há nestes locais uma variedade de perfumarias, joalherias, lojas de sapatos etc. 

Na zona central de Granada, entre o fim da Gran Vía de Colón e a parte do Paseo de los Tristes podemos ainda encontrar lojas de souvenirs com muitas opções de produtos ao estilo árabe, como especiarias, roupas de seda, sapatos e bolsas de couro e diversas luminárias que dão à Granada um cenário único que remete a seu pasado nazarí glorioso.



Comer em Granada

Na minha opinião, um dos maiores atrativos de Granada, à parte da sua beleza histórica e arquitetônica, é a diversidade e acessibilidade (em termos de preços) dos restaurantes. 

Para começo de conversa, Granada é uma das poucas províncias espanholas onde ainda são servidas as famosas tapas de forma gratuita. Funciona assim: ao entrar no bar e pedir uma bebida, o garçom vai te trazer um prato com uma porção individual de alguma comida (que pode ser desde "arroz", nome mais comum na Andaluzia para a famosa paella, até uma porção de peixe frito ou de carne ao molho, por exemplo). 

Se o conceito da tapa te agrada, saiba que não será difícil viver essa experiência na cidade em qualquer bar de comida tipicamente espanhola onde você entre. Para garantir a sua tapa, deixo de qualquer forma a recomendação de bares bem tradicionais na cidade como a La Cueva de 1900, Los Diamantes, ou a Bodega Casteñeda, o restaurante mais antigo da cidade.


Como Granada é uma cidade muito multicultural, com distintas influências e que atrai muitos jovens (é a cidade da Espanha que mais recebe intercambistas universitários), também é possível deliciar-se na cidade com comida internacional de distintas origens: mexicana, japonesa, indiana, marroquina, norte-americana etc.

Se você é mais fã de doces, saiba que Granada também é muito conhecida por seus "obradores", que são como confeitarias ou padarias especializadas em bolos, doces, bombons e essas coisas. O doce mais famoso da cidade é o Pionono, dedicado ao Papa Pio IX, e, ainda que não seja o meu preferido, vale prová-lo. Ainda na linha de sobremesas, Granada conta com uma excelente sorveteria bem perto da Catedral chamada "Los Italianos".

Transporte em Granada

Granada tem uma rede de transporte urbano bastante eficiente, contando tanto com linhas de ônibus como com um "tranvía", uma espécie de metrô de superfície que é excelente opção caso você chegue à cidade pela estação de ônibus ou de trem. Isso porque o tranvia passa na frente de ambas estações e te leva até a Gran Vía de Colón, de onde poderá caminhar para conhecer a parte mais relevante da cidade.

Bem perto de Granada há também um aeroporto que recebe voos nacionais (de Madrid e Barcelona, por exemplo) e alguns internacionais provenientes de cidades da Europa, como Paris. No aeroporto há a opção de alugar carros e os preços praticados são dos mais econômicos que já vi pela Espanha. A cidade não é exatamente ideal para carros, principalmente na zona central, mas se for inevitável para você usar esse tipo de veículo, compensa bastante alugá-lo no aeroporto.

 A Costa Tropical de Granada

Como dito, à parte de Granada capital, a sua visita a essa província andaluza pode ser facilmente complementada com uma passadinha na praia, caso viaje à região nos meses mais quentes do ano (de maio a setembro).

A região de Granada é banhada pelo mar mediterrâneo e as praias são bem típicas dessa zona: com mar calmo e areia de pedras. A temperatura do mar costuma ser mais fria do que estamos acostumados no Brasil, mas pode chegar a ficar bastante agradável dependendo do ano (quando é ano de El Niño, por exemplo, fica um verdadeiro caldo). 

A costa de Granada foi batizada de Costa Tropical pois tem um micro-clima subtropical que permite o cultivo de muitas frutas, com destaque para o abacate. Por este mesmo motivo, é uma zona também onde podemos ver uma variedade de flores e plantas que não costumamos ver em outras partes da Espanha.

Dentre todas as cidades de costa de Granada, as que mais me agradam são Almuñécar, Salobreña e Motril. 

A primeira, Almuñécar, é a mais bonita. Dentre suas prais principais, a San Cristóbal é a menor mas ao mesmo tempo a mais agradável. Na cidade, alguns lugares de interesse para visitas são o Castillo de San Miguel, uma fortaleza romana que também foi usada pelo árabes, e o Parque El Majuelo, que junta jardim botânico, jardim de esculturas e sítio arqueológico fenício.



Já a segunda cidade citada, Salobreña, é a que tem a melhor estrutura, tanto na praia, com muitas opções de restarantes e quiosques e aluguel de cadeiras e guarda-sóis, como para zonas de estacionamento gratuito, algo que é bem difícil de encontrar próximo a praias nas cidades espanholas. 

Por fim, vale mencionar também Motril. Ainda qee não seja uma cidade com boas praias (e além do mais ficam afastadas do centro), é a cidade da Costa Tropical que tem mais espaço de banho e é onde fica o porto principal da região, de onde saem, inclusive, ferryboats a outras cidades da Espanha e a cidades do norte da África, principalmente do Marrocos.

O acesso a essas e a outras praias de Granada, caso não esteja com carro, pode ser feito facilmente com ônibus da empresa Alsa, que saem da estação de ônibus de Granada. 

Pensando em visitar mais lugares na Andaluzia? Confira nossos posts sobre Málaga, Jaén, Almería e Córdoba!


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